Diário de Bordo – Santiago do Chile – Day 1

Para ouvir enquanto lê: La Paloma – Paco de Lucia e El Condor Pasa

“A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.”

José Saramago

Day 1

É assim, inspirada no sábio Saramago, que começo a relatar minha mais recente viagem. Uma semana em Santiago do Chile, na presença de amigos e família, além da dor de dente que não me largou um segundo!

Saímos de Rio Grande ao fim da tarde, rumo a Porto Alegre, de onde voaríamos diretamente para Santiago. Despedidas de família, amigos e cachorros, pegamos a estrada em nosso companheiro “Petit Point” (nosso Ka, já citado no Diário de Bordo de Buenos Aires). Mas, primeiro! Como encaixar todas as quatro malas mais a bagagem de mão no porta malas?? Uma mistura de pensamentos japonês, francês e italiano e chegamos a um consenso e posição. Agora sim, partiu!

Eu sou bastante entusiasta das cidades pequenas, mas admito que morar nas capitais tem as suas vantagens. Não ter que viajar quase cinco horas até o aeroporto internacional mais próximo é uma delas. Levamos mais tempo de Rio Grande ao Aeroporto do que do Brasil ao Chile.

Deixamos nosso carro no AeroSafePark, estacionamento em frente ao Salgado Filho, eles nos levam de van até o andar do check in e nos buscam na volta, muito bom. A data do vôo foi programada para que não coincidisse com a “zueira” do feriado de Carnaval. Fomos antes e voltamos durante.

Uma das coisas que odeio em aeroportos é o excesso de segurança. Não se pode carregar líquidos na bagagem de mão? “Como assim moço? E o meu perfume? E as minhas maquiagens? Tenho que despachar isso? Imagina se a minha mala se perde!!” Sem roupa, mas belas e perfumadas…No fim pudemos levar, só que dentro de saquinhos…como se fizesse alguma diferença…

Um vôo de aproximadamente três horas, que em parte sobrevoou a cordilheira dos Andes e em outra nos proporcionou vista privilegiada de uma tempestade de raios no céu argentino, nos deixou em Santiago por volta das três da manhã. O Hotel oferecia serviço de transfer então esperamos, esperamos e….esperamos…Graças a um senhor chileno super simpático conseguimos ligar para o Hotel do telefone celular dele e pedir que mandassem um carro. Péssima impressão dos serviços chilenos, e, pra falar a verdade, não mudou muito até o final da viagem. Valeu Señor Hugo, salvou a noite!

O Hotel mandou um taxi para nos pegar. René era o nome do taxista, super simpático que falava português, inglês, italiano e francês, além de sua língua mater…nos contou várias histórias e deu dicas sobre os chilenos, que viriam a se concretizar depois. Chegando ao Hotel Plaza Londres, localizado no centro de Santiago em uma rua trés charmante chamada Londres, que cruzava com a Paris, descobrimos que eles nem tinham a nossa reserva. Isso que marcamos com pelo menos um mês de antecedência! Mas no fim tudo se resolveu, chave na mão, banho e cama.

Os quartos eram muito charmosinhos, o nosso tinha até uma foto do Elvis e da Marylin Monroe. Mas mudaríamos para um melhor no dia seguinte. Com banheira, ar condicionado, ventilador, sacada para a calle Londres e, o que realmente importa, camas, os quartos atendiam bem as nossas necessidades de turistas sem muitas regalias. O café da manhã se assemelha ao dos Hostels, com porções individuais para cada hóspede, que vinham com um iogurte, alfajor, manteiga, geléia, pão, leite, cereais e café.

Nesta primeira manhã decidimos permanecer nos “arrededores” do Hotel. Conhecemos o Palácio de La Moneda, localizado na Alameda Libertador Bernardo O’Higgins, a principal de Santiago. Segundo René, se percorrermos esta Avenida até o final, chegamos na Argentina, com algumas curvas ao Paraguai, ao Peru, ao Litoral ou qualquer outro lugar neste universo ou em outra galáxia. Nela também estão localizadas as Universidades de Santiago, do Chile e a Católica, o Cerro Santa Lucia, Clubes, Comércio e outros tantos atrativos turísticos. Após um almoço no Burger King partimos para a Plaza de Armas, onde estão localizadas a Catedral Metropolitana, o Mercado Central, o Museo de História do Chile e outras coisinhas mais…

Palacio de La Moneda

Mercado Central – turista adora um mercado, né hein?! Esse não é muito diferente dos outros. Mau cheiro devido à comida preparada e vendida lá, peixes ao léu, frutas, restaurantes, e, o tradicional, Centolla (leia-se sirizão). Neste mercado pudemos ter uma prévia do quanto o Brasil significa para os Chilenos em diversas maneiras, tanto financeira, cultural, esportiva e política. Em destaques estavam as bandeiras do Brasil e do Grêmio! (Sim, somente a do Grêmio), dentre tantas de países e clubes ostentadas no Mercado Central. Somente lá encontramos dois brasileiros trabalhando, que se mostraram fiéis à nação o suficiente para nos dizer: visitem o Mercado, mas comam fora dele! E de fato, a comida lá era muito cara, e o mau cheiro não apetecia.

Início da romaria, a Catedral. Belíssima! Todas as muitas igrejas de Santiago são lindas. Algumas delas com as marcas deixadas pelo terremoto que atingiu o Chile em 2010. Monumentosa, com ostensivos mármores e adornos dourados, a Metropolitana é digna de seu título. Mas uma coisa me parecia estranha, olhei, olhei e por fim descobri o que faltava! Gente, a Catedral não tem a Via Sacra! Procurei nos vitrais, nos quadros, nos monumentos, no teto e nada da bendita! Deve haver alguma explicação, que até hoje não descobri…enfim, católicos fervorosos que são os Chilenos, devem ter uma razão para isto. Dentro da Catedral, havia ainda um mausoléu de bispos, áreas e imagens em restauro e uma capela destinada aos fieis da Virgem del Carmen, padroeira do Chile.

De volta ao mundano, percorremos de norte a sul, leste e oeste em busca de uma loja de souvenirs para que a parte italiana/portuguesa da entourage pudesse comprar “medalhinhas”. O mesmo fizemos em todas as outras 457 igrejas de Santiago. Sem sucesso…

Já que cá estamos, e com tempo livre, aproveitamos para visitar o Museu de História do Chile, também na Plaza de Armas. Por uma quantia que não passava o equivalente a dois reais se pode conhecer grande parte da história do Chile, desde a sua colonização até o período atual. Interessante, devo dizer, mas muito grande para um museu de história. O que lhe concede um pouco de conforto são os bancos nas salas maiores e as obras de arte gigantescas penduradas nas paredes em frente a eles. Uma pena não de poder fotografar o interior…

Ao sair de lá avistamos um outro mercado, este sim, sem cheiro de peixe e com muitas lojas de artesanato e outros itens. Entramos e logo de cara encontramos uma banca com tudo que se pode imaginar feito de lápis lázuli, uma rocha metamórfica de cor azul característica do Chile e do Paquistão. Compramos, mas voltaríamos lá para mais.

Ainda pouco orientados sobre as distâncias entre os pontos em Santiago, estávamos decidindo se voltaríamos de taxi, metro ou ônibus. Foi quando perguntamos que linha tomar, que um nativo nos disse: “mas fica a três quadras daqui!”. Pois é, voltamos para o hotel caminhando…

Um banho, um soninho e rua novamente. Partimos rumo o barrio boêmio Bellavista para jantar. Lá tem o badalado Pátio Bellavista, onde durante o dia funcionam lojas, lancherias e sorveterias e a noite pubs, restaurantes e pizzarias. Optamos por Rocco’s, o melhor da pizza nova yorquina no Chile. Risos. Foi nesta noite que provamos nossa primeira cerveza artesanal chilena. La Cusqueña, forte e saborosa! Na Rocco’s também passamos pela primeira gafe turística da viagem: “Quieren pica?” perguntou a garçonete, automaticamente nos levando às gargalhadas, disfarçadamente, é claro. A atendente queria saber se gostaríamos de pimenta no molho da pizza, mas a explicação em nada ajudou a controlar as piadas que se estenderiam até o fim da viagem…

Continua!

Para mais fotos acesse o meu Picasa

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